Crítica sobre estudos clínicos com vitaminas & minerais

sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Tem-se acompanhado um montante considerável de estudos científicos envolvendo vitaminas e minerais. Alguns envolvendo mais de um nutriente (3 tipos do complexo B, por exemplo) outros isolados como o caso da vitamina E e da vitamina D (a grande vedete do momento).
A intenção, louvável, é a de checar a comprovação da eficiência da suplementação, bem como das dosagens necessárias a serem aplicadas e em qual duração. Todavia, estudos com métodos seguros e equipes qualificadas desorientam-se no momento de estipular os critérios que fundamentam a regência das vitaminas & minerais, que integram o metabolismo do corpo humano e atuam em diferentes rotas metabólicas, ou seja, são parte do metabolismo, são ferramentas primordiais para que uma cascata de acontecimentos ocorra. As vitaminas e minerais são as ferramentas com as quais o metabolismo é realizado. Atuam nos diversos sistemas orgânicos. Não são como drogas, onde os princípios ativos interferem em rotas metabólicas, bloqueiam enzimas ou interceptam mensagens nervosas. As drogas precisam ser eliminadas em sua totalidade e não fazem parte dos "cast" de atuação da orquestra metabólica!
Assim sendo,  o enfoque de análise deve ser, claramente, outro. Abaixo, seguem-se os principais pontos críticos para análise de aplicação das vitaminas & minerais, que são comumente desprezados em estudos:
-Número de envolvidos maior que 30 (aumento de representatividade);
-Escolha dos envolvidos prezando a diferença de etnias (é favorável tê-las em estudo), as doenças crônicas envolvidas e as comorbidades que podem afetar o metabolismo e portanto, a absorção das vitaminas & minerais;
-Hábitos de vida, exemplo: dois participantes saudáveis sob uso de vitamina D no estudo,  ambos professores, um trabalha dentro de sala de aula, outro leciona natação em local aberto e recebe bastante luz solar(promove síntese endógena de vitamina D) - outro exemplo -  duas mulheres empresárias, uma utiliza como fonte de gordura azeite e óleo de canola e come peixe raramente, a outra possui ingesta diária rica em laticínios e peixes como salmão (todos fontes de vitamina D);
-O sinergismo entre as vitaminas & minerais, é sabido, pelo estudo da BIODISPONIBILIDADE dos nutrientes, que vitaminas e minerais interagem todo o tempo de atuação no organismo além do que, existem uma interdependência de atuação entre alguns grupos exemplo: o trio antioxidante A,E e C, a relação de atividade exercida pelas vitaminas B9 e B12,  a interação entre minerais.
Algumas interações importantes


Ca/P :  a relação ideal é de 1:1 na idade adulta e de 2:1 na idade infantil. O excesso  ou falta de um, provoca o desequilíbrio de absorção do outro.
Ca/Zn: O excesso  ou falta de um, provoca o desequilíbrio de absorção do outro.
Ca/Na: O excesso de Sódio no túbulo renal, provoca maior perda de Cálcio urinário. O abuso do sal de cozinha acarreta maior excreção do Cálcio obtido na dieta.
Zn/Cu: O excesso de Zinco alimentar reduz a utilização do Cobre nos adolescentes e nos idosos.
Fe/vit.A: alguns estudos recentes, demonstram que a deficiência de vitamina A é fator decisivo para a modificação no metabolismo do Ferro. Sugerem também, que a suplementação de ferro deveria ser acompanhada por medidas de controle sobre os níveis de retinol orgânicos.
Fe/outros metais: a absorção de metais, próximos ao ferro, na tabela periódica, como o Co (cobalto), Ni (níquel), Mn (manganês), Zn (zinco) e Cd (cádmio) é aumentada, quando há deficiência de ferro;


-A interação medicamentosa: a piridoxina (vit.B6) acelera a conversão da L-Dopa em dopamina plasmática pela ativação da Dopa Descarboxilase.  O ácido tânico presente no café, chá, mate, frutas e vinhos pode precipitar vários tipos de medicamentos como clorpromazina, flufenazina, prometazina, alcalóides. Entre outros exemplos, vê-se a interferência de alimento/medicamento, como também, medicamento/alimento.
-A alimentação diária do paciente, que pode favorecer ou impedir a absorção das vitaminas/minerais suplementados. Pessoas que possuem dieta muito rica em fibras (>3 g/dia) podem ter a absorção de minerais como zinco comprometida.
-O nível de estresse deve ser considerado, já que o cortisol aumentado pode desequilibrar os ritmos circadianos como o ciclo sono/vigília, a temperatura do corpo, a taxa respiratória, a excreção urinária, a divisão celular e a produção de hormônios (comandos do corpo), afetando a taxa metabólica e podendo diminuir o peristaltismo do bolo alimentar. 
-Não comparar suplementação com dieta, pois a dieta ideal é complexa e rica em nutrientes com ganho incomparável de biodisponibilidade. É como comparar duas equações de primeiro e terceiro grau: não há lógica comparativa. Há presença da linguagem matemática atuando em planos muito distantes.


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Muitos estudos com aplicação de vitaminas & minerais estão sendo aguardados, provenientes de instituições consagradas, utilizando métodos validados e de ponta, aplicando randomização e efeito duplo cego, mas nenhum deles será mais eficaz do que uma dedicada anamnese médica dentro de um levantamento comprometido em aproximar-se do universo individual-bioquímico de seu paciente. Quando o tema é suplementação de nutrientes, o universo a ser estudado é o individual.








(Fonte: texto de autoria própria, Outubro, 2011.)





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